28.04.20

Como lidar com crianças com autismo durante a quarentena?

A mudança de rotina, causada pela pandemia da covid-19, afetou a população, que se viu obrigada a permanecer em casa e rever suas atividades durante este período de quarentena. No entanto, embora seja uma questão de se adequar a esse novo momento, a dificuldade se potencializa nas crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os pais acabam encontrando uma dificuldade em encontrar alternativas para complementar a rotina das crianças, que antes mantinham uma rotina cheia de terapias presenciais e escolares.

Para lidar com essas dificuldades, o SANFRA conversou com Paulo Estevam, Psicólogo Educacional do Colégio, que deu algumas dicas de como contornar a situação da melhor maneira possível. Confira:

Nesses momentos de apreensão, o que influencia o comportamento de uma criança com autismo?

Talvez o fator principal aqui seja pensarmos o autismo como uma condição que reflete alterações no neurodesenvolvimento de uma pessoa, apresentando quadros distintos, com uma questão comum, que é um grande prejuízo na sociabilidade e comunicação, compreendendo desde quadros mais graves, com maior dependência, até quadros mais leves, com alterações bastante sutis.

Algo bastante comum também e que pode ser um complicador nos tempos que estamos vivendo é um apego a rotinas, dificuldades em lidar com mudanças e imprevistos, gerando comportamentos mais agitados e irritadiços em alguns casos.

A imprevisibilidade no contexto atual pode ser um fator preocupante na lida com essas crianças e adolescentes.

Quais os principais desafios do pais em momentos como esse? Como essas mudanças bruscas de rotina podem ser amenizadas?

Todos os pais estão enfrentando mudanças em suas vidas nesse momento, e para pais com crianças/adolescentes com autismo, o desafio pode ser ainda maior.

Conforme mencionado, talvez seja importante que esses pais tentem dar alguma previsibilidade aos seus filhos, tentando minimizar possíveis inseguranças e instabilidade emocional que a falta da rotina antiga possa causar. Uma maneira de lidar com essa questão pode ser a criação de novas rotinas em casa, usando recursos visuais, apoios textuais explicando para a criança como será seu dia por meio de um “quadro de rotina”, muitas vezes construído com o próprio filho, incentivando e estimulando o contato, o trabalho manual, o engajamento, socialização entre outras coisas.

Como deixa-lo fora do alcance de notícias negativas e que gerem um stress? Qual a melhor forma de explicar o momento a eles?

Nesse ponto, gostaria de ressaltar que todos devem tentar manter uma rotina na qual eventos estressores sejam evitados – notícias de redes sociais, informações contínuas, pensamentos negativos e catastróficos, devem ser filtrados. Precisamos avaliar o quanto a criança/adolescente precisa de fato saber sobre tudo o que está acontecendo, qual a melhor forma de explicar essa mudança de rotina escolar e de acompanhamentos terapêuticos. Tudo precisa ser pensado para evitar ansiedade e desconfortos emocionais desnecessários. Não existe uma maneira específica de falar sobre o momento que sirva para todas as crianças. Algo que pode ser bastante útil, e que falamos acima, seja o uso de recursos visuais, textuais, usando fotos de crianças em atividades na escola e em casa, ao se referir aos trabalhos escolares, por exemplo, ilustrando a diferença entre os dois contextos e o que é esperado que faça naquele momento.

Quais as atividades recomendadas para mantê-los ativos? Qual a importância de um acompanhamento profissional mesmo à distância?

É interessante que os pais possam, de alguma maneira adaptar os trabalhos que eram feitos presencialmente até o momento do isolamento, para serem feitos em casa. Sabemos das dificuldades que podem ser impor, porém, o momento é único e vai passar. Podemos transformar tudo em um grande aprendizado, compreendendo nossas limitações e a das crianças/adolescentes. Todos os pais sem exceção estão vivendo um acúmulo de funções e não devem se cobrar tanto se nesse momento não conseguirem cumprir à risca tudo que era realizado por uma equipe de profissionais especializados – seria utópico achar que conseguiriam. Avalie seu limite e o de seus filhos, até que ponto conseguem chegar e comemorem cada conquista por menor que seja!

 Se houver uma crise, qual a melhor saída e como lidar?

Num cenário ideal, o contato online com a equipe multiprofissional que atua com a criança/adolescente, deve ser mantido. Esses profissionais poderão dar instrução, ainda que de maneira superficial, de algumas possibilidades de atuação em casa durante esse período, evitando também perdas comportamentais já adquiridas. Sinalizar para a criança alterações na rotina de maneira sensível, afetuosa, adequada, pode também ajudar a evitar possíveis crises. Vale salientar que o que se aplica em um caso pode não ser adequado em outro, e receitas prontas nem sempre surtem o efeito que esperamos, sendo assim, tente manter contato próximo com os profissionais responsáveis pelos seus filhos, e em caso de alguma crise mais intensa, busque ajuda imediata.

Paulo Sergio Estevam Ferreira

Psicólogo e Psicopedagogo

CRP: 06/93350

*Este texto é informativo e não pretende substituir o atendimento/clínico profissional.