21.08.20

O ensino em tempos de isolamento

O ensino em tempos de isolamento

Desde março de 2020, estamos vivendo dias que jamais imaginamos – fato que tem sido exaustivamente discutido nos mais diversos contextos. Muito temos lido, assistido e discutido acerca do isolamento social, pandemia, número de infectados, mortes, entre tantas outras coisas – pesadas e dolorosas, com efeitos em curto, médio e longo prazo. A ideia aqui é refletirmos sobre um dos vários desdobramentos dessa situação – o contexto escolar e familiar.

Muitos pais estão sob forte estresse – seja porque perderam seus empregos, estão trabalhando home office, cuidando de idosos em sua família, fazendo compras etc. – e ainda precisam cuidar da vida escolar dos filhos. Nunca os pais ficaram tão próximos da realidade cotidiana de seus filhos, dos professores, colegas.  Sabemos que aliado a tudo que descrevemos acima, não é fácil a tarefa de orientar os filhos menores nas aulas online.

No momento das atividades algumas crianças demandam muito mais atenção e foco por parte dos pais – que precisarão dispor de mais tempo e perseverança – porém, algumas estratégias podem ser implementadas com bons resultados.

– Busque fazer com o Xaveriano um cronograma do que é necessário para a semana – alguns já possuem essa autonomia – e construir juntos é muito melhor.

– Mantenha sempre os mesmos horários para os estudos, refeições, banho e brincadeiras. Construir uma tabela com a criança além de divertido é relaxante também.

– Em uma linguagem adequada, mostre ao seu filho que as atividades devem ser feitas como se estivesse na escola, e estabeleça um local tranquilo para isso. Auxilie e monitore – não faça as tarefas pela criança – tampouco desrespeite  o seu tempo e o seu limite.

– Tente estipular um horário que não impacte em seu trabalho ou afazeres domésticos para ajudar nas tarefas dadas. As atividades de leitura podem ser feitas em um horário tranquilo, em família, e permitindo que o Xaveriano reconte o que compreendeu, faça alguma arte visual, invente uma estória – estimule a criatividade.

– Reforce positivamente cada dia, cada tarefa realizada, cada comportamento adequado.

Indo um pouco além das tarefas escolares, e não descuidando da relação familiar, podemos usar uma ferramenta da Disciplina Positiva de Jane Nelsen, que é a REUNIÃO EM FAMÍLIA, cuja ideia é proporcionar um encontro, no qual, a família reunida poderá chegar a consensos sobre problemas que as afetam direta ou indiretamente. A oportunidade é de crescimento e resolução de problemas em conjunto, não uma oportunidade de fazer reclamações e mostrar descontentamentos.

A proposta dessa ferramenta é reunir, semanalmente, a família nuclear e falar sobre alguma questão para a qual seria importante encontrar uma solução – em conjunto. Vamos dar alguns exemplos: hora de fazer tarefas; hora do banho; uso de celular durante as refeições; tempo de permanência em jogos eletrônicos, entre outras coisas.

A família se reúne para pensar em soluções juntos, e não para brigar ou discutir, mas para construir uma lógica de resolução de problemas com foco na solução.

Como preparar a reunião de família:

1) eleger alguém para presidir a reunião, organizando o espaço e os materiais que serão necessários;

2) Eleger um secretário que anotará a solução escolhida para o problema (ata);

3) Criar o “bastão da fala” que será dado a quem quiser obter a palavra.

Partindo para o início:

1)        Reconhecimento e apreciação: cada membro dirá algo de bom que o outro fez e que será valorizado e reforçado, por exemplo:

“Eu te reconheço por ter ________ no dia _______”

Essa é uma ideia para começar a reunião de família já num clima bem positivo, evitando apontamentos que possam ser negativos e desagradáveis.

2)        Após esse momento será apresentada a pauta da reunião – com o bastão em mãos um membro apresentará um desafio que foi vivenciado ao longo da semana, por exemplo:

“Não gostei de/não foi adequado (a) __________, como podemos resolver? ”

Aqui, as decisões são tomadas em conjunto e o foco é na solução do problema.

3)        Uma proposta de resolução do problema é tida como a que será experimentada por todos ao longo da semana, sendo possível avaliar se foi eficaz ou não para o problema.

4)        Encerramento – deve ser feito com algo prazeroso para todos – uma sobremesa, um filme que todos gostem, um jogo.

5)        O secretário registra a ata, coloca a data e todos assinam;

6)        Uma ideia bacana pode ser registrar o momento com uma foto, guardando como lembrança dos momentos vividos.

Devemos considerar aqui a importância do momento e do quanto engajamento pode criar entre todos da família, além de desenvolver um senso de responsabilidade, pertencimento, respeito, empatia.

Esses encontros devem ter a duração de 30 minutos em média, lembrando que crianças a partir de 4 anos apresentam mais possibilidades de ganhos.

Vamos tentar fazer desse período um rico aprendizado coletivo, no qual as crianças e adolescentes também possuem muito a nos ensinar, lembrando sempre da necessidade de estarmos firmes, serenos e confiantes.

“É possível mudar nossas vidas e a atitude daqueles que nos cercam simplesmente mudando a nós mesmos.” Rudolph Dreikurs

NELSEN, Jane. Disciplina Positiva.  3. Ed. SP: Barueri, SP: Manole, 2015.

 

Este artigo foi produzido por Paulo Sergio Estevam Ferreira, Psicólogo Educacional do SANFRA – CRP: 06/93350. O conteúdo foi publicado originalmente na revista eletrônica BlahPsi.

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