Sobre pais e filhos – Para além de recompensas e punições
Em minha prática clínica e escolar, especialmente, chegam muitos pais com queixas parecidas, para não dizermos iguais. A questão está sempre presente na relação cotidiana em casa, e invariavelmente, respingando na escola. A interação escolar é o universo da criança – é nesse ambiente que ela aprende conteúdos essenciais para sua formação acadêmica, cognitiva – mas também é onde ela se desenvolve emocionalmente e socialmente.
Percebemos que as crianças evidenciam nesse ambiente as vivências da dinâmica familiar, dificuldades, pontos positivos ou negativos, sejam eles conscientes ou inconscientes. Muitos pais acabam criando seus filhos da maneira como foram criados, ou tentam fazer o “oposto” do que seus pais fizeram, e acabam criando expectativas frustradas, ambivalências, extremos e recorrem ao lugar conhecido – autoritarismo ou permissividade, fazendo uso de punições e recompensas.
Punimos filhos quando esses fazem algo que não “é correto”, e recompensamos quando os filhos se comportam de maneira adequada, correta, coerente com o que valorizamos, com o que a sociedade diz ser certo. Sim, muitos pais se preocupam em demasia com o que os vizinhos, os avós, tios, professores, e até desconhecidos pensarão a respeito da maneira com que criam suas crianças. Isso é um grande engano! Cada família tem seus valores, suas crenças, seus ideais, e esses são pontos fundamentais a serem passados na educação dos pequenos.
A essa altura, você pode estar questionando quais angústias chegam ao psicólogo infantil, não é mesmo? Vamos a algumas delas: as eternas birras, desobediências, dramas na hora de ir para a cama, para o banho, para a escola, vestir o uniforme, fazer as tarefas, arrumar o quarto, não bater nos colegas, não responder de maneira agressiva aos professores, avós, dificuldades de aprendizagem no contexto educacional, enfim, tantas são as queixas quanto nossa imaginação possa alcançar.
Se você tem crianças ou adolescentes em casa, provavelmente esteja enumerando outras dificuldades ao ler esse texto. Sim! As queixas são muitas, e não existem fórmulas mágicas para resolvermos esses “problemas”. Existe muita reflexão, indagações, conversas entre os pais, terapeutas, e essencialmente, um mergulho no universo da parentalidade – qual seu estilo parental? De que maneira você se relaciona consigo mesmo? O que pensa sobre ser pai, mãe? Quais exemplos e modelos de comportamento transmite?
As crianças costumam ser excelentes observadoras, reproduzindo comportamentos semelhantes aos dos adultos, porém sem grandes discernimentos acerca do que é certo ou errado. Precisamos lembrar que somos adultos e que as crianças são dependentes física e emocionalmente de nossas ações, nossas decisões, e do que projetamos para elas em curto, médio e longo prazo. Que tipo de adultos queremos formar? O que queremos para eles no futuro? Como gostaríamos que se recordassem do tempo de infância? Para tanto nos cabe um olhar profundo para nossa criança interior, para quem fomos, somos e seremos. Precisamos de presença genuína, autêntica e respeitosa para com as crianças, buscando proporcionar o aprendizado de habilidades sociais e de vida, valiosos para o desenvolvimento de um bom caráter em um ambiente de firmeza e gentileza ao mesmo tempo.
Não basta estarmos ali cumprindo a função social de parentalidade – as crianças da atualidade são outras, se comportam de outras maneiras, possuem outras necessidades, outros sonhos, e precisamos estar ali, com e para elas. Para encerrar gostaria de deixar uma ideia de Jane Nelsen, idealizadora da Disciplina Positiva, e que resume bastante o que tentamos dizer aqui, e ainda abordaremos em outros artigos:
“Segue sendo meu sonho criar a paz no mundo através da paz nos lares e salas de aula. Quando tratarmos as crianças com dignidade e respeito, e lhes ensinarmos valiosas habilidades de vida para formar um bom caráter, elas derramarão paz no mundo. ”
NELSEN, Jane. Disciplina Positiva. 3. Ed. SP: Barueri, SP: Manole, 2015.
Precisa falar com nosso psicólogo educacional? Entre em contato pelo e-mail psicoeduc@nova-abalone-whip.blogs.rockstage.io.
Este artigo foi produzido por Paulo Sergio Estevam Ferreira, Psicólogo Educacional do SANFRA – CRP: 06/93350. O conteúdo foi publicado originalmente na revista eletrônica BlahPsi.