Ansiedade na adolescência
“Durante toda nossa trajetória de vida, encaramos momentos tranquilos, bons, de paz e onde tudo parece estar indo exatamente como planejamos – outros nem tanto assim. O que isso quer dizer? A vida nunca é totalmente previsível, por mais que façamos planos e busquemos ter metas, objetivos, previsibilidade de alguma forma”.
Algumas crianças tendem a resistir mais ao que é diferente, novo, e que não estava nos seus “planos”, na sua rotina – como exemplo, podemos pensar na entrada na escola. Possivelmente, essas crianças estarão mais propensas a algum desconforto, uma sensação de estranhamento consigo mesma e com a situação, que pode levar a crises de choro, irritação, medo e ansiedade no momento de ir para esse novo local e se separar dos entes queridos.
Quando avançam para a fase da adolescência essas sensações, quando foram tratadas de maneira adequada, tendem a desaparecer. No universo do desenvolvimento humano algumas fases podem ser marcadas por momentos mais atribulados e outros mais serenos. Em geral a adolescência é uma fase de muitas mudanças – um novo “corpo”, novos tons de voz, novas cobranças da sociedade, família, escola – as inquietudes podem vir acompanhadas de sentimentos de impotência ou “tudo é possível”, tristezas sem motivos aparentes ou euforia sem precedentes, grandes escolhas ou “deixa rolar”, muitos amigos ou nada de amizades, foco ou distração; enfim, as ambiguidades e incertezas fazem parte dessa fase quase o tempo todo.
Essa fase de transição deve ser muito bem acompanhada pelos pais para que possam orientar e acolher esses jovens e orientá-los quando for necessário, em momentos de medo, de ansiedade. Estados emocionais intensos são esperados nessa fase, no entanto, quando esse estado emocional é progressivo ou duradouro, atrapalhando o desempenho nas tarefas diárias e nas relações sociais, há a possibilidade de ser um transtorno.
De acordo com o DSM-V, nos transtornos de ansiedade estão incluídos os que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados. Em resumo, medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura.
Assim como a criança se antecipava à hora de ir para a escola e se separar dos pais, por exemplo, alguns adolescentes podem tender a pensar demais sobre o futuro, sobre suas novas tarefas e responsabilidades, gerando muita insegurança em relação a forma como é visto pelos familiares, colegas de escola, amigos, professores, etc. Essa sensação é ainda mais intensa para quem tem um perfil mais tímido, chegando inclusive a acarretar perdas e prejuízos de ordem social, pois esses jovens acabam tendo, por vezes, uma visão um pouco negativa de si mesmos e do mundo ao seu redor. Nessa situação um alerta de que algo não está indo muito bem é o cotidiano escolar – os pais podem e devem observar como está o desempenho acadêmico, social desse adolescente, fazendo contato com o colégio e indagando sobre mudanças de comportamentos significativas, além, claro, das observações em casa. Alguns adolescentes chegam a ter reações físicas como sudorese, taquicardia, mal-estar generalizado, insônia, diante de situações em que precisem se expor, iniciar conversação, pedir informações, entre outras possibilidades de contato onde se “sintam avaliados”.
Sabemos que, por vezes, a sensação de impotência e desencorajamento que alguns jovens sentem, pode e deve ser acolhida, cuidada e ressignificada, dando vez e voz ao encorajamento. Nesse sentido a participação atenta e ativa dos pais na vida dos filhos é fundamental, e aqui compartilhamos algumas possibilidades:
- Tenha fé neles e em você mesmo (responsável).
- Deixe-os saber que os erros são oportunidades de aprendizado.
- Trabalhe em acordos, soluções e planos para superar problemas.
- Mostre a eles que o que acontece agora é apenas por enquanto e que que amanhã é outro dia para aplicar o que aprenderam hoje.
O tratamento geralmente consiste em psicoterapia, e em alguns casos existe a necessidade de medicação para alívio dos sintomas mais intensos. Existem bons especialistas para atendimentos com adolescentes, tanto em psicologia como em psiquiatria.
Importante é o jovem sentir-se bem, livre para expor suas angústias, criando um bom vínculo terapêutico, tendo a certeza de que tudo pode ser tratado com seriedade e dedicação.
Referências bibliográficas
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013.
NELSEN, Jane. Disciplina Positiva para adolescentes: uma abordagem gentil e firme na educação dos filhos. 3. Ed. SP: Barueri, SP: Manole, 2019.
Este artigo foi produzido por Paulo Sergio Estevam Ferreira, Psicólogo Educacional do SANFRA – CRP: 06/93350. Precisa falar com nosso Psicólogo Educacional? Entre em contato pelo e-mail psicoeduc@sanfra.g12.br.