Exposição em tempos de aulas remotas
Nossa adaptação ao ensino remoto não foi fácil. Há uma batalha diária. Os desafios não param de se apresentar diante de pais, professores, gestores da educação e, principalmente, das crianças e dos adolescentes que, talvez, tenham sido os mais afetados por toda essa mudança.
A capacidade de assimilação e adaptação a novos contextos e realidades varia de acordo com a fase do desenvolvimento humano. Em nossa prática, com a realidade escolar, vemos que os pais que precisavam trabalhar e acompanhar os filhos no ensino remoto encontram grandes dificuldades, principalmente com os pequenos estudantes – quanto menor a criança, maior o desafio. As dificuldades variam desde a falta de atenção e concentração até de estímulos para manter os pequenos sentados diante da tela por tanto tempo.
Apesar de toda adversidade vivenciada, pudemos notar que a maioria dos estudantes participam, interagem, compartilham suas ideias, opiniões e expressões. É visível a alegria de estarem com os professores e colegas! O mesmo já não ocorre com os mais velhos que, em sua maioria, mantém suas câmeras e seus áudios desligados, mesmo durante a aula. Por quais razões? O que motiva tal comportamento? Qual o receio em “aparecer”, ainda mais em se tratando daqueles que estão constantemente em redes sociais e outras mídias?
Uma matéria publicada no jornal Estado de São Paulo, em 23 de maio de 2021, intitulada: ‘Trollagens’ criam barreira ao ensino remoto nas escolas, discute um pouco essa temática acerca da “não exposição”, que leva a uma interação prejudicada e ao empobrecimento das relações, dos contatos e dos vínculos sociais e afetivos que a escola busca promover. Algumas hipóteses são levantadas para justificar essas ações, tais como o medo de sofrer bullying, receio de ter sua imagem exposta em redes sociais, comentários inadequados, entre tantas outras coisas.
Tais empecilhos seriam suficientes para evitar o contato? Para alguns adolescentes, sim! Seja por já terem sofrido algum tipo de “brincadeira desagradável” ou terem apenas presenciado. De qualquer maneira, o desconforto se instala e é um tanto complicado desfazer tais pensamentos disfuncionais. Cabe a nós, educadores, e aos pais a tarefa de, ainda que em passos lentos, mostrarmos que as coisas podem ser diferentes.
Precisamos mostrar aos jovens que o que eles pensam, sentem e fazem estão muito além do que julgam como sendo prioritário ou ideal em termos de imagem corporal, bens materiais etc. Precisamos estar conectados com eles, disponíveis para compreendermos seus medos e anseios, ouvindo o que dizem sem julgamentos ou críticas, e o diálogo é fundamental para que isso ocorra. Muitas vezes, acabamos fazendo coisas, tomando atitudes e tentando resolver problemas que eles mesmos já poderiam resolver, e isso acaba desencorajando-os.
Quando mostramos que eles são capazes de um posicionamento assertivo diante de algumas dificuldades, estamos dando um voto de confiança, uma oportunidade de crescimento, um salto para o amadurecimento – não importa que no início estejam tomados por uma insegurança quase paralisante, um medo de que tudo possa dar errado – devem seguir em frente com nosso apoio. Assim, em resumo, estaremos de alguma forma buscando soluções em parceria, desenvolvendo habilidades sociais e de vida, afinal, nem sempre poderemos estar por perto. Pensemos nisso!
Sobre o autor
Este artigo foi produzido por Paulo Sergio Estevam Ferreira, Psicólogo Educacional do SANFRA – CRP:06/93350.
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