Quando a “agitação” é um transtorno
Agitação, dificuldade para prestar atenção às instruções e impaciência são comportamentos cada vez mais característicos de nossas crianças, inseridas numa dinâmica cada vez mais “veloz”, em um mundo repleto de uma variedade de estímulos e recursos inimagináveis. No entanto, é bastante difícil distinguir essas características de um “problema” que requer cuidados. Até que ponto as crianças estão apenas sendo mais “ativas” por uma “necessidade” que se apresenta, ou essa hiperatividade é característica de um quadro clínico a ser tratado?
As crianças que sofrem de TDAH, muitas vezes, são “rotuladas” como indisciplinadas, desobedientes ou preguiçosas. O nível de estresse no âmbito familiar passa a ser alto, devido às consequências geradas pelo descumprimento das demandas esperadas. Muitas vezes, os pais e todos os que convivem com a criança sentem-se confusos com relação às atitudes a serem tomadas – são frequentemente chamados por professores e coordenadores pedagógicos para conversar sobre os comportamentos apresentados em aula e fora da sala de aula.
São exemplos de alguns sintomas, que podem requerer atenção (lembrando que o diagnóstico só é fechado por um clínico, na presença dos sintomas por um certo período de tempo):
– A criança não consegue manter a atenção em detalhes. Na escola, por exemplo, “esquece” de anotar metade da frase ou não presta atenção ao sinal do cálculo, errando o resultado, ainda que saiba efetuá-lo, parece não escutar quando é chamado, fala demais. Os materiais são desorganizados e a perda dos mesmos ou das tarefas é frequente;
– É comum evitar atividades que exijam persistência ou esforço mental como a leitura de um livro. A distração que, muitas vezes, é confundida pelos adultos como “preguiça” é comum, quando a atenção é direcionada para outros estímulos como sons externos, por exemplo;
– A atividade corporal pode ser excessiva, sugerindo inquietação, ex: remexer-se na cadeira, permanecer de pé quando deveria estar sentado, não conseguir ficar em silêncio durante as atividades etc.
Muitas vezes, há outros transtornos associados ao TDAH, como ansiedade, impulsividade ou depressão e que requerem orientação profissional, a fim de que todas as variáveis envolvidas no processo sejam avaliadas. O tratamento deste quadro clínico deve ser multidisciplinar, normalmente feito com psicoterapia e orientação (psicoeducação) familiar, além do auxílio medicamentoso, em alguns casos.
É importante lembrarmos que nem todo comportamento de hiperatividade ou desatenção pode ser característico de um transtorno a ser tratado dessa maneira – cabe sempre uma boa observação dos comportamentos da criança e uma orientação profissional adequada.
Fonte: Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 5.ª edição
Autor: Paulo Sergio Estevam Ferreira(Psicólogo – CRP: 06/93350)